Feliz (re)encontro, feliz despedida.
Relatos de um sonho, um relacionamento amoroso e uma despedida espiritual
Eu o vi nos meus sonhos, e nossa, como você era lindo. Andando por entre a floresta, em meio a dança das folhas, estava você a me esperar ao lado de um grande caldeirão de fogo. Era uma festa de almas, ancestrais, animais, seres de todos os lugares a me encontrar, e você… ah, você estava lá também. O primeiro a me saudar com um grande abraço e seus braços fortes, azuis a me envolver. Era como se você fosse multicolorido, e apesar de ser você, era um outro você, uma versão muito antiga da sua essência, um encontro de velhas almas que se prometeram um ao outro num passado distante e agora estão a se encontrar.
Você era alto, mais alto do que eu pelo menos! E tinha um cabelo imenso armado, como se fosse uma juba de leão e um corpo de guerreiro. Seus braços começaram na cor azul e conforme ia passeando com o olhar você se tornava uma cor diferente, até que finalmente vi sua pele. Um castanho claro, caramelo. Marcas e cicatrizes leves, porém vigoroso e com olhar acolhedor, como quem estivesse a me esperar há muito tempo. Nos olhamos nos olhos, eu a chorar e você a sorrir gentilmente em minha direção.
Foi quando me abraçou e me apertou e nossos corações se tocaram como nunca antes. Seu corpo quente a me “engolir” naquele abraço, como um cobertor, como um grande amor. Confesso que nunca me senti tão calma e tão amada em toda minha vida, mesmo que por ligeiros segundos, foi uma eternidade em um piscar de olhos. Você me olhou nos olhos novamente, segurando em meus braços, me saudou: “ Seja bem-vinda, meu amor. Você está linda hoje, há quanto tempo não é mesmo?”. Sem saber o que dizer, fui capaz apenas de soltar um “O quê você faz aqui? Eu não entendo o que é isso”. Sem perder o seu doce sorriso me acolheu segurando agora em minhas mãos e me contou que aquilo era para eu me lembrar de quem eu era e quem éramos nós antes de tudo isso. Antes do mundo. Que eu preciso continuar a ser forte e corajosa, e que um dia voltaremos a nos encontrar como antes no passado. Nossas verdadeiras essências se encontraram, o que é maravilhoso, mas eu terei de voltar para a minha vida e encarar a realidade, que talvez por mais estranha que seja, a vida deve continuar.
Seu rosto envolto em uma luz tão dourada e tão bonita, me fez lembrar de sensações escondidas em meu sangue. Num piscar de olhos nos vi despidos de toda moralidade humana, todo conjunto de regras criado ao longo de séculos de existência e estávamos apenas nós, no grande oceano cósmico, em equilíbrio em comunhão. Eu, um ser de água e você de fogo. Talvez nunca tenhamos realmente vivido uma vida juntos de fato, mas essencialmente nunca separados. Dançávamos uma dança especial, possível apenas entre nós, e eu vi o seu interior. A sua criatura ancestral, o seu poder genuíno magnífico solto pelo universo.
Num piscar de olhos nós retornamos. Ou melhor, eu retornei a mim, e lá estava você, a sorrir e me olhar. “Você precisa voltar, e mesmo que eu não me lembre ou talvez não saiba ainda, eu amarei você e estarei sempre por lá. Você precisa viver e seguir em frente e eu, preciso aprender a ser eu novamente mas isso não será a você a me ensinar. Vá, não se sinta só, eu estarei lá”.
Um feliz reencontro, feliz partida.
Foi preciso uma projeção astral para mostrar uma coisa sobre nós, que somos antigos, já nos conhecemos há muito, muito tempo. Talvez isso eu já soubesse mas recusei a ver. A recusa em aceitar que somos próximos, que não é possível, depois de tantos desentendimentos e “vaivéns”, tempo após tempo… Seriam nossas crenças distorcidas gritando por identificação? Na primeira vez, acreditei que sim, já nas demais não pude levar isso tão a sério. Como é possível depois de tanto tempo estarmos assim, tão próximos? Amor seria uma resposta interessante, mas a essa altura também não creio que seja isso. Apenas isso. Então, o que mais? E porquê? Seria um meio de nossas almas aprenderem juntas a viver nesta realidade e agora, agora que estamos aqui nesta nova etapa, estariam nossas almas se despedindo para cumprirem outros ciclos? Como seriam esses novos ciclos? São tantas perguntas que emergiram em meu coração, mas que dessa vez não me senti desesperada. Talvez, de uma vez por todas, eu tenha entendido que somos assim, que nos encontramos por ora. Nos despedimos por ora. E em algum momento da jornada nos reencontraremos novamente. Me canso de perguntar ao universo, e quem quer que esteja ouvindo, as motivações que nos unem. As motivações e os propósitos que nos colocam no caminho um do outro.
E agora, estamos vivendo uma fase na qual cada um de nós enfrenta seus próprios demônios interiores. Os despertares de uma nova consciência repleta de dúvidas, medos e inseguranças. Seria essa a maior distorção que nos uniu, a insegurança?
Quando brigamos, sinto que eu posso romper com tudo. Mandar tudo a merda e ir embora com uma potência incompreensível. Imensamente desproporcional. Mas é só o sangue esfriar e percebo as mazelas ditas, as atitudes ruídas, o estrago feito. Mas, recentemente passei a notar as nuances que mais pesam sobre o meu próprio julgamento a meu respeito. O seu silêncio, o excesso de “zelo”, a vontade de me proteger e me cuidar. Pra quê? Pra quê, se você implode e não me mostra o que realmente o machuca? Pra quê, se você mesmo com dor sempre me olha e consegue me confundir sem me deixar saber o que está acontecendo na realidade? Isso não é cuidar de mim, ou de você mesmo. Isso é uma coisa diferente, e é você. Você é assim, mas precisa aprender a ser assim de um jeito mais saudável para você mesmo.
Eu sino muito por todas as coisas pelas quais passamos, meu coração está em prantos por isso, eu só queria que pudesse ver o que eu vi. Sentir o que eu senti, e talvez, só talvez… você pudesse compreender (em partes) como eu posso. Ter nos visto daquele jeito. Ter visto você. Sentir o desejo amargo e inenarrável de querer estarmos em nossa plenitude e viver o melhor de nós, vivendo bem. Vivendo com alegria e amor. Eu sinto a sua falta, sinto falta de nós em um momento antigo, como uma memória apagada, talvez pelos séculos de reencontros e despedidas. Sinto falta de estar contigo com conforto e tranquilidade, de um jeito que não sei dizer como ou porque. Mas o amo o suficiente para entender que talvez seja o momento de mais uma despedida, um sentimento amargo estranhamente familiar que me encontra nesse momento. Um sabor de tristeza, um alívio dolorido de sentir que talvez seja melhor assim, ou porque não o verei mais sofrer, ou porque não serei eu uma das milhares de razões a faze-lo sentir-se mal. Não quero me colocar como centro do universo, mas, isso me faz refletir. Se você me ama, se você quer estar comigo, então porque se afasta? Talvez porque seja a hora de partir, e tá tudo bem. Um dia, quem sabe nessa vida ou na outra, a gente se reencontra novamente.