Não existe “o tempo certo das coisas”
Existe você no seu tempo do agora e as escolhas que você faz.
Uma coisa é fato, não há como “deixar de fazer escolhas”. Até porque, o simples fato de não escolher, acaba se tornando um caminho que a gente, inevitavelmente, precisa trilhar uma vez que se “escolheu” assim.
E, curioso que há alguns dias tive uma conversa muito interessante com alguns amigos a respeito do tempo certo das coisas. Falávamos muito, de um jeito bem leve mas profundo, sobre vários cenários que já vivemos ao longo da vida. Do quanto me sentia, até então, atrasada e frustrada pelo resultado das escolhas que fiz em detrimento de outras escolhas, e como isso me dava uma certa angústia e chateação para comigo mesma.
O mais curioso, porém, foi durante os meus momentos de fala, nos quais me percebi secretamente muito mais madura do que imaginava. Mais forte. De certo, pensamos que ao envelhecer nos tornamos mais sábios, (em tese). Mas o que eu digo vem de outro lugar, da (des)construção de um paradigma que há tempos me atormentava.
De tirar o sono e tudo mais.
Enfim…
Cheguei a conclusão, pelo menos por agora, de que não faz sentido algum quando falamos “eu já deveria ter feito [x] coisa”, ou, “[x] realização já deveria ter cruzado meu caminho, e portanto estou atrasada com isto”. Ora, além de me perceber tão injusta e punitiva com uma pessoa (eu) tão inesperiente (neste passado), e cunfusa e com medos, e com uma sorte de coisas tão difíceis de lidar, é ao mesmo tempo uma armadilha imensamente perigosa que nos torna míopes em relação a quem nós realmente somos, para além dos esteriótipos que compramos para pertencer a certos circulos sociais.
Explico.
Neste momento passo a compreender que é demasiado injusto com a minha versão do passado, toda a carga atrelada ao “erro” de uma escolha “mal feita”. Bem, do alto da montanha que escalei fica muito mais fácil enxergar os buracos, os barrancos e os perrengues que o caminho ofereceu ao longo das jornadas percorridas. Fica fácil olhar para trás com a vantagem de conhecer o “futuro” de uma determinada escolha, porque é no agora que a gente vive a realidade daquilo que foi idealizado anteriormente. E, sendo assim, qual a compreensão que eu tenho de mim mesma, se não considerar o grau de conhecimento, coragem e disponibilidade para enfrentar o percurso que eu tinha naquela época?
Além de injusto, chega a ser uma expectativa irreal. Uma ferramenta de auto punição, e nada agrega em termos de experiência de vida.
Não sei o quão claro é o pensamento até aqui, para mim ele também é bem novidade. Então, vamos recomeçar.
De um outro jeito.
Entendendo que o único tempo que eu tenho é o agora, e, enquanto estiver viva, por mais que eu tenha vários “agoras”, é sempre naquele mais recente onde a vida acontece. Vamos pensar juntos. Imagine que você vai tomar uma escolha na sua vida, sem grandes pretenções. Até porque, seu conjunto de crenças e valores, te permitem um certo conhecimento sobre algo,mas nada muito profundo. Então, você reflete e conclui que precisa se permitir viver aquela escolha. E sendo ela, certa ou errada. Boa ou ruim, a escolha de um caminho abre outros novos caminhos. Como se a cada nova esquina que você vira, uma nova encruzilhada se apresenta, e você tem a oportunidade de ir ajustando a sua rota.
Ao percorrer estes lugares, mesmo que você tenha mudado um pouco o plano ao longo do caminho, não importa o que aconteça, você precisa ter paciência com determinadas circunstâncias. Calma para absorver alguns aprendizados. Vai aprender a acelerar e desacelerar, quando preciso for. A gritar e a silenciar, a pular e abaixar, igualzinho você faria em outro caminho, se tivesse que tomar uma outra escolha [x].
Então, no final, mais importante do que o “eu já deveria estar em [x]”, é algo muito mais sobre, “quem você se tornou quando chegou neste lugar?”. É algo mais parecido com “quem você é, depois de viver estas escolhas?”. Por que o tempo não volta mais. As coisas não desacontecem, não se descoisam para que possamos reviver uma tábula rasa novamente. A jornada, se torna de fato algo mais importante do que o final, (clichê? sim. Mas muito real).
O aprendizado que eu colho disto é poder permitir paz para o meu eu do agora, e entender que o passado que me trouxe até aqui, talvez nem fosse tão diferente do que eu idealizo que pudesse ter sido melhor. É permitir que eu possa abrir uma nova etapa sem o peso de uma cobrança que só existe se eu realmente acredito que o caminho deveria ter sido diferente, e sendo assim, continuo na roda perpétua de não respirar no agora e tomar a tal da escolha perfeita. Ou de ao menos tentar, né.
E a gente sempre tenta.
E tenta de novo. Mais uma vez.
Talvez agora, “tentar” seja mais pelo desejo de viver a experiência que o caminho pode proporcionar (entendendo que o meu grau de consciência, ferramentas, conjunto de crenças e valores pessoais estão alinhados apenas com o que eu tenho no agora, e nenhum outro tempo mais), do que pelo benefício que eu idealizo de algo que aconteça num certo momento lá num futuro que eu não tenho controle, mas que eu super meceço só porque sim.
As vezes o simples liberta, mas é preciso caminhar essa caminhada.
Só assim, no agora.