O quê uma pessoa como eu tem a dizer sobre a vida, sofrer e algo assim…?

Louise Nazareth
6 min readAug 27, 2019

--

Cresci ouvindo que para se ter credibilidade em qualquer meio, mídias num geral, você precisa ser alguém. Ser alguém de respeito, de renome. Alguém que saiba do que esta falando, um certificado que fale por si, uma carteirada acadêmica para embasar o seu conhecimento.

Mas hoje eu quero muito falar de uma coisa, falar de algo que vem do coração e do tempo de vida que eu tenho, (e que nem é tanto assim). De uma experiência que há muitos anos me acompanha e cresce e embola no peito e especialista algum me ajuda com isso. O tempo, o tempo de curar, o tempo de passar, o tempo de fechar. Falo de coração partido mesmo, escancarado, cheio de escaras, dor e um punhado de lembranças que insistem em voltar. Invadem a mente e você se vê numa posição de se encher de compromissos e outras pessoas para calar as vozes que atormentam. Essas vozes de “você deveria ter feito isso”, “você falhou naquilo”, “tá vendo só! agora ele está lá, vivendo… e você aqui, sua tonta”. E por aí vai… São vozes que nem sempre têm razão, nem sempre mostram a realidade das coisas mas estão lá. Estão com você, onde quer que você vá.

Psicólogos afirmam que mudanças de hábitos são saudáveis, e para uma vida mais equilibrada alguns ajustes na rotina são necessários. Sim, eu concordo. Concordo com tudo isso, mas a questão é a lacuna que fica entre o fazer o pensar. Naquele momento que você vai deitar e dormir e por alguns instantes todas as imagens te assaltam o pensamento, lembranças de cores, cheiros, texturas, até as brigas parecem menores vistas de fora. Até as picuinhas parecem não ter mais tanto valor, ou mesmo aquele ciúmes e tudo mais. A grande questão, no meu caso, (e talvez no seu), é que eu fiz o que eu pude. De desejos de mudança às realizações destas, de fato. Mudei numa velocidade record para muitas coisas, outras ficaram para o tempo decidir. Mas ainda assim, eu me esforcei e dei o meu 100%. Dei tanto de mim que hoje sinto uma injustiça imensa o que está acontecendo comigo. Sinto uma dor horrível de levantar sozinha da cama e ter que escovar os dentes. Sinto. Sinto muito também, e sinto por não saber expressar de um jeito mais completo isso que aflige tanto. Sinto que se eu tivesse sido diferente, que se eu tivesse feito diferente, e que se eu fosse uma pessoa diferente, talvez, e só talvez… algo teria sido diferente do que foi. Essas coisas me doem no profundo da alma, e é um tipo de coisa que não adianta ir na terapia, tomar remédio ou dormir mais uma ou duas horas… é questão de tempo. Fazer tudo isso é claro que ajuda, pelo menos você se distrai no ínterim de cada compromisso, você se liberta de quem você é por um instante e se olha de fora. Olha sua vida, miserável ou não, mas ela é sua. E o quê fazer com tudo isso? O quê fazer com tudo isso aqui…?

Eu não preciso ser especialista para dizer que certas coisas são péssimas na vida. Como mandar mensagem para o ex, ligar para ele. Acordar o homem no meio da noite… Isso não trás ninguém de volta. Se prontificar às mudanças, e mudar mesmo! Fazer mil coisas na sua vida para se ajustar à da outra pessoa, tampouco trás alguém. Dói. E só isso. Vai doer enquanto eu pensar desse jeito. E mesmo que eu mude o foco do pensamento, ainda vai doer pela parte que compete à raiva, à frustração. Vai doer porque eu simplesmente estou frágil e qualquer ventinho brisa será um vendaval carregando meus sonhos para longe de mim. Ninguém precisa ser expert para entender que um coração partido só se partiu porque a outra metade (ou pedaço, sei lá…) que caiu não era sua. O coração partido nada mais é do que o puxadinho que você constrói para abrigar um novo alguém num espaço muito especial, embora deveras improvisado. Quando se ama alguém de verdade, e essa pessoa lhe retribui, você não tem um puxadinho. Você constrói algo um pouco maior, um anexo, por assim dizer. É um espaço imenso que você se perde lá dentro e quando a pessoa vai embora, deixa toda a bagunça para você limpar. Agora meu amor temos 2 opções:

  • 1 ou você larga tudo isso e taca fogo com o fósforo do seu cigarro de autopiedade e segue a vida em frente, doendo mas em frente,
  • 2 ou você entra ali e tenta arrumar tudo no intuito de se livrar e organizar aquele espaço para caber mais de você ali dentro. Adianto que este segundo não é fácil, nem de longe! Mas é uma opção a se considerar.

Viver a dois, a três, em sociedade, viver… viver é isso. É um eterno malabares, um equilibrar de pratinhos o tempo todo e você não pode se esquecer de que o seu eu também é um desses pratinhos. Temos o habito curioso de nos colocarmos de lado em situações das mais diversas e agirmos como receptáculos de estímulos. Isso mesmo, você, na sua mente, cria um avatar de eu sou assim e sai andando pela cidade, realizando sua rotina. Se enche de tarefas, coisas para forçar o seu mental a não dar uma brecha se quer para relaxar e assim vai seguindo e realizando coisas conforme os estímulos que recebe. Se um chefe manda, você obedece. Se uma pessoa pergunta, você responde. Se você quer urinar, vai ao banheiro. Se quer transar, procura a primeira pessoa disponível sem pensar muito sobre. E assim vai… Se quer ver algo, Netflix. Se quer chorar, faz mais trabalho. Se quer sofrer, assina mais compromissos na agenda. E a medida da loucura cresce até o ponto de perceber que você mesmo se encheu de afazeres que hoje não significam tanto em questão de qualidade vida, mas ocuparam sua mente até o inevitável acontecer. Quando você falha.

E dói. Bem vindo ao clube dos que falham! Pelo menos uma vez em cada uma das fases da sua vida, você vai falhar. Quando criança falha em não morder o coleguinha na escola. Quando adolescente, falha em mentir sobre coisas que deveria ser sincero. Quando adulto, falha em não querer olhar para dentro. Falha até quando magoa pessoas e nem se dá conta de que está magoando, e quando percebe, é um pouco tarde já. Mas falhar não é ruim. A falha só existe quando adotamos uma perspectiva de que algo deve acontecer segundo um processo X específico. Fora isto, é falha. Mas entenda, nem sempre pensar assim pode ser ruim, isso significa que mesmo tendo pisado na bola, você aprendeu. Aprendeu, no mínimo, a não trilhar aquele caminho. E, saiba, psicólogo nenhum vai te dizer como aprender, esse processo é interno seu. Você vai aprender técnicas que lhe ajudaram tal qual às ferramentas para um mecânico, mas jamais alguém vai entrar em você e te dizer o que fazer. Você, mesmo sem ser especialista, precisa entender de uma vez por todas, que é possível e é capaz de realizar essas coisas dentro de você mesmo que não saiba como. Nossa sociedade não é acostumada a respeitar tempos internos. Depois do advento da revolução industrial, tempo é dinheiro, e você não passa de uma frescura. Mas uma frescura que dá tilt se não se cuidar, não é mesmo?

Eu sou do tipo que escrevo textão mesmo porque eu sei que se você chegou até aqui, algo do que eu digo faz sentido. Ou pelo menos é interessante pensar que você não é a única pessoa no mundo que tem vontade de falar mas não sabe como, por onde começar. Quem sou eu para escrever sobre qualquer coisa? Mas saiba, tem um monte de coisas que ninguém conta pra gente. Até porque existe a máxima de que sentir dor ou sofrimento é fraqueza. Digo que não se conhecer é a maior delas, uma fraqueza na qual quem presta atenção em você te conhece muito melhor do que você imagina. Ah! E sim. Sim, eu sinto falta do meu antigo relacionamento, da rotina. Da pessoa. Dos momentos. Sinto falta mesmo e admito isso. Eu sinto falta de ser quem eu era com ele, porque ali eu sentia coisas que obviamente hoje não fazem sentido, porque acabaram… e não doíam como as coisas de hoje doem. Mas eu sei que o fato de sentir tudo isso e admitir tudo isso também me dá controle para decidir o que fazer com isto. E sabe de uma coisa, é completamente normal sentir e acolher tudo isso, espero que uma hora pare de doer e que eu encontre uma pessoa bacana para dividir um tempo de novo. Alguém que não queira apenas construir puxadinhos no meu coração, mas que deseje ficar e edificar algo maior, melhor e mais harmonioso.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

Louise Nazareth
Louise Nazareth

Written by Louise Nazareth

Crônicas para compreender, transformar. Por uma vida anti-rótulos, liberta. Escrita livre para desabafar, entender, passar um tempo.

No responses yet

Write a response