Quando é hora de levantar, pegar as malas e partir
Já faz um bom tempo que não escrevo por aqui. Talvez porque estivesse experimentando coisas novas pela cidade. Talvez porque eu estivesse presa em volta de um sentimento antigo com cara de roupa nova, um sentimento de que algo de dentro de mim ainda serviria à alguém. E como não é de se espantar, eu perdi a hora de me levantar. Eu perdi a hora de sair daquela mesa, e só eu não percebi, perdi o momento de ouro de me erguer e levar comigo os meus restos para não pesassem em outro coração que não o meu. Mas o que fazer agora, é permitido ficar aqui mas todos os sabores e sensações estão restritos somente àqueles que ainda possuem algum aval de espalhar seus sentimentos feitos sementes desgovernadas ao vento sem se importar em qual jardim farão morada. O que fazer quando não se importam com isso? Se levantar, ir embora! E é o que eu farei depois de quatro anos, preciso me levantar e partir para um jardim no qual meus esforços sejam acolhidos, no qual (se existirem) feridas se permitam ser tocadas por mim e com isto cuidarmos juntos. Me sinto particularmente muito cansada de tanto esforço. Esforço em ser uma pessoa legal, em não dizer as palavras erradas, em não agir descontroladamente, em não ferir você com o meu jeito de pensar. Esforço em respirar, me mover, pensar milimetricamente, e quem sabe (no pensamento mais imbecil e sem significado possível) você sentir vontade de ficar comigo. Estou cansada de ir ao psicólogo e frequentar o psiquiatra na esperança de ficar boa quando na verdade isso só vai acontecer longe de você. Estou literalmente cansada de ser segunda opção, de não ter meu coração levado em consideração, estou cansada de ser sempre aquele compromisso da agenda que só da certo se um outro não acontecer. Eu me sinto emocionalmente esgotada de tanto procurar alternativas para curar as tuas feridas, de me fazer presente, de estar aí… Eu me sinto. Sinto o corpo doer, as pernas, os braços. Sinto a cabeça, a língua, o coração. Sinto meu pescoço pesado de tanto me esforçar para te ver da última fileira de prioridades da sua vida. Mas nunca me canso de esboçar um sorriso, isso não é um peso pra mim. Sorrir ainda não me machuca, talvez seja a única coisa que eu possa te oferecer quando eu for embora porque do resto você já levou, experimentou e devolveu: não me serve. Mas se um dia eu me cansar de sorrir desejo que seja porque Deus tenha me trazido a hora de partir, porque eu me recuso a deixá-lo levar isto também. Sinceramente, eu pouco me importo pela nomenclatura do nosso relacionamento. Aberto-fechado. Redondo-quadrado. Foda-se, na real. Na real não éramos capazes de pagar as contas do mês sem sofrer com o quê deixaríamos de lado, o nome de um relacionamento era o de menos. E eu… ah, eu sempre me reinvento! Sempre aprendo algo novo, sempre vou atrás de coisas novas, sempre me esforço. Sempre. E para…? Para aprender a largar a mão de ser idiota. Para aprender que nem sempre o meu melhor esforço garante que a pessoa se abra e deseje estar ali comigo. Para aprender, também, que nem sempre um sorriso é de alegria, as vezes é só um lance que a gente faz pra não mandar tomar no cu. Mas isso de aprender também me cansa. Por que me sinto num eterno aprender. Aprender mil formas de você, para que mil e uma me virem a cara. Acho que agora sei o significado de ser boazinha. Acho que agora eu sei como é fazer o máximo por alguém e sempre sair com zero, sempre ter um grande zero nas mãos. Você só serve para esquentar nas noites de frio e divertir nas de calor, era o que eu ouvia de uma pessoa. Não sei se ela tem tanta razão assim, mas agora essa frase passe a me fazer um pouco de sentido. Queria saber porque é tão difícil se levantar da mesa, se levantar, pegar minha malinha e ir embora. Eu olho para os talheres como quem deseja que eles durem para sempre em meu olhar, como quem deseja que você me tome por uma das mãos e peça para eu ficar. São segundos que arrancam do meu peito um grito seco e abafado traduzido em lágrimas quentinhas e silenciosas. Você não vai pedir para eu ficar para sempre. Você não vai se cuidar tão cedo também, que eu sei. Se o amor que existia em nós fosse suficiente você teria ido, sempre demos um jeito e com isso não seria diferente. Passo a crer que você não quer várias coisas, ficar comigo e ficar bem é uma delas. Se você quer ficar sozinho, então fique. Fique nos braços de quem você achar que deve também. E também, não me procure mais. Eu não posso oferecer menos do que eu sou para alimentar o seu ego partido. Não posso reduzir, feito um downgrade, meus sentimentos por você. Ou você os têm, ou não. É muito simples comigo, não sou de fazer joguinhos. Se ainda existir algo meu com você, guarde por si ou jogue fora. A mim nada mais interessa, as HQs, os livros, somente minha echarpe, se achar devolva por favor. É um presente meu para mim mesma de uma época que gosto de lembrar o quanto eu era mais forte e saudável (mentalmente). De você não quero mais nada, a minha parte da comanda desta mesa eu mesma já paguei há um ano. Não se incomode. Eu só quero uma xícara de chá bem gostosa, tirar esses sapatos e chorar na minha cama sem você, nunca mais. Recolher os meus pedaços e dedicar tudo isso, que você certamente não sentirá falta, para mim.
